Usar daquele velho ditado que diz que o peixe morre pela boca para definir esse livro não é nenhum pouco exagerado. Integrando a coleção Plenos Pecados, da Editora Objetiva, O Clube dos Anjos tem como tema nada mais nada menos que a gula, sem dúvida o pecado mais saboroso entre todos os sete capitais.
Deliciosamente narrado por Luís Fernando Verissimo, um dos melhores – senão o melhor – escritor brasileiro contemporâneo, essa obra gastronômico-literária faz uma apetitosa mistura entre suspense, comédia e aventura, ao contar a história de um grupo de dez amigos que se reúne mensalmente há muitos anos, para celebrar a arte de bem comer. Porém, no dia seguinte ao do primeiro jantar feito por um misterioso cheff chamado Lucídio, Abel morre por circunstâncias misteriosas, justamente ele que, por tanto ter gostado do prato feito pelo cozinheiro, quis comer a última porção. A dúvida paira pelo ar entre os nove: teria Abel morrido envenenado?
A morte do amigo não é motivo para pararem com os encontros, e no mês seguinte, mais um jantar promovido por Lucídio e mais uma morte. No outro mês, o episódio se repete. Mas diante de tantas coincidências entre jantares e mortes, não seria o mais aceitável que os encontros fossem cessados? Seria, mas não para o grupo, que de certa forma sente um prazer ainda maior em saborear os pratos apimentados com um iminente medo de morrer. A comida, de algum modo, ficaria mais saborosa por causa da incerteza mórbida da última refeição: será que amanhã eu vou amanhecer vivo?
Sem dúvida, O Clube dos Anjos vai te prender, e não vai ser pelo estômago. As linhas carregadas de mistério, bom humor e suspense só vêm a confirmar a genialidade de Verissimo, que tece muito bem essa teia de enigmas, que vai levar a um final surpreendente. E então, vai uma boquinha aí?
O Clube dos Anjos, Luís Fernando Verissimo, Editora Objetiva, 1998, 130 páginas.
O Clube dos Anjos, Luís Fernando Verissimo, Editora Objetiva, 1998, 130 páginas.
Resenha de Vinícius Dill S.
